Ryyan Alshebl fugiu da sua cidade natal na Síria há oito anos atrás e chegou à Alemanha sem saber uma palavra de alemão. Agora, não só é fluente e tem cidadania, como foi eleito Presidente da Câmara de uma vila no sudoeste alemão. Antes da guerra na Síria, o Ryyan confessa que tinha uma vida despreocupada, dependente dos pais e sem ter de pensar muito no futuro, com a mãe professora e o pai engenheiro agrário. Mas, de repente, tudo mudou e ficou sem qualquer perspetivas de futuro. A ascensão do autoproclamado Estado Islâmico contribui ainda mais para que Ryyan e a sua família ficassem receosos de um futuro atroz em que Ryyan fosse recrutado para o exército. Como muita da população, Ryyan não queria ser usado como "carne para canhão" numa guerra sem sentido, por um regime ao qual se opunha. A única opção era fugir. Foi muito difícil para os pais aceitarem que o seu filho iria partir para uma viagem onde poderia acabar morto, mas ao mesmo tempo, sabiam que não havia outra opção senão tentar escapar. Com 21 anos, o Ryyan despediu-se dos pais e amigos e partiu numa travessia para tentar chegar à Europa. Ryyan partilha que a viagem mudou-lhe a personalidade, onde aprendeu a tomar responsabilidade por si e pelos outros. Chegou ao Líbano e daí foi até à Turquia, onde fez uma viagem traumática num bote de borracha que o levou até à ilha de Lesbos. Foi a pé até à Alemanha, tendo conseguido entrar graças à política de "braços abertos" da Angela Merkel, que foi muito criticada pela direita, levando ao crescimento da extrema-direita e de movimentos anti-imigração como a Alternativa para a Alemanha (AfD).
Quando chegou não sabia uma palavra de alemão, e não sabia como as coisas funcionavam. Todos os dias havia algo novo para aprender, mas a força que serviu como ponte cultural foi o futebol, pois foi sempre um fã do Bayern de Munique. Sempre foi interessado por política e em 2016 decidiu candidatar-se a um estágio na autoridade local da cidade de Althengstett e formar-se para ser um especialista em administração pública. Como o seu nível de alemão não era muito alto, os seus superiores não queriam que entrasse para administração, mas ele conseguiu convencê-los que essa era a melhor opção. Com o passar do tempo e com a experiência foi incentivado pelos seus superiores e colegas a candidatar-se para presidente da Câmara de Ostelsheim, uma pequena vila de cerca de 2.500 habitantes, na região de Baden-Württemberg. Membro do Partido Verde, candidatou-se como independente, com a campanha a centrar-se na infraestrutura municipal, na coesão social, na proteção climática e em cuidados infantis mais flexíveis.
Ryyan ganhou as eleições autárquicas com 55,41% dos votos, derrotando os outros dois candidatos alemães. Apesar de Ryyan ter recebido comentários de ódio por parte de eleitores de extrema-direita, a sua experiência tem sido maioritariamente positiva. A sua vitória foi celebrada na região, assim como em toda a Alemanha e fora, com inúmeros pedidos de entrevistas de todo o mundo. A emissora pública regional descreveu a vitória de Ryyan da seguinte forma: "Hoje, Ostelsheim deu um exemplo de mentalidade aberta e cosmopolitismo a toda a Alemanha. Isto não é algo que possa ser tomado como garantido numa zona rural conservadora." Para uma residente da vila "o conto de fadas tornou-se realidade, e o homem certo tornou-se o nosso presidente da câmara".
Agora, Ryyan pensa no futuro. “Quero apoiar Ostelsheim. É claro que a percepção de que eu também possa ser um exemplo ou um modelo para outra pessoa é também gratificante. É um orgulho justificável. Mas o meu trabalho é principalmente fazer Ostelsheim avançar."
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