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A "selva" de Calais, seis anos após demolição

O acampamento da cidade portuária de Calais, em França, foi-se edificando a partir de 2015, com o aumento do número de pessoas em necessidade de proteção internacional a chegarem à Europa. Considerada como a melhor rota para chegar ao Reino Unido, Calais começou a receber muitas pessoas, desesperadas por encontrar segurança e bem-estar no outro lado do Canal da Mancha.

Rapidamente se tornou numa espécie de campo de refugiados, coberto de tendas, sem água canalizada ou eletricidade. A falta de condições e o número crescente de pessoas (chegaram a estar cerca de 10 mil pessoas) que chegavam ao que, parecia ser, a única salvação, intensificou a pressão por parte das organizações humanitárias a trabalhar na "selva", assim como o descontentamento da população local.

Em outubro de 2016, o campo foi demolido pela polícia francesa, destruindo as tendas onde as pessoas vivam, mas também lojas, restaurantes ou escolas que surgiram informalmente para o serviço da população residente do campo. Mais de 6 mil pessoas foram deslocadas para centros por toda a França, mas milhares de pessoas, incluindo muitas crianças não acompanhadas, permaneceram na costa de Calais, com a esperança de conseguir chegar ao Reino Unido. Os sucessivos desmantelamentos do campo revelam-se infrutíferos, dado que dias depois voltam as tendas e as pessoas. A força policial e o tratamento desumano aos residentes do campo, não os dissuadem de encontrarem um caminho para poderem reconstruir as suas vidas. O trabalho das organizações é também impedido, ao proibirem a distribuição de alimentos, água e bens essenciais. Não obstante, esta conduta não se aplica a todas as pessoas migrantes que esperam reconstruir as suas vidas, havendo quem tenha mais privilégios.

Neste momento Calais conta com cerca de 1000 pessoas, incluindo muitas famílias. Vêm de vários países e cada tem o seu motivo para querer cruzar uma perigosa travessia que pode ser fatal. Desde 2014, já morreram, pelo menos, 205 pessoas a tentarem atravessar o canal e muitas outras são ativamente impedidas de entrar em território britânico, seguindo a tendência europeia da militarização de fronteiras.

Como dizia António Guterres, antigo Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados e atual Secretário Geral das Nações Unidas, "as pessoas virão", independentemente das condições ou perigos.

“Não aceito que me digam que é perigoso ir para o mar. Tenho aqui comigo os meus cinco filhos, não há ninguém com mais noção do que é o perigo do que eu. Ainda assim, qualquer coisa é melhor do que aquilo que tínhamos. É o último recurso, não há mais nada. O que posso eu fazer?” exclama um pai de cinco filhos, alojados em Calais.

Conheça a "selva" de Calais e as estórias de algumas pessoas lá alojadas aqui.



Crianças brincam com bicicletas doadas no campo de Calais. Associated Press.

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